quinta-feira, 10 de novembro de 2011

João Rubinato, o poeta dos vagabundos.


06 de agosto de 1910. Nascia em Valinhos-SP, João Rubinato, filho de imigrantes italianos pobres, cresceu nas dificuldades da vida e dela tirou forças para continuar seguindo em frente.
Aos 10 anos de idade teve seu registro alterado para que pudesse trabalhar, assim ajudando no sustento da casa que além dele e dos seus pais, ainda tinham mais sete irmãos.
Abandonou a escola cedo, e para tentar resolver os problemas financeiros, a família Rubinato vivia mudando de cidade, mas foi em Jundiaí, aos quatorze anos que João Rubinato encontrou seu primeiro ofício: Entregador de marmitas. Entrevaga bolinhos pela cidade e assim, aprendeu na matemática da vida uma lógica irrefutável. Se havia fome e na marmita tinham oito bolinhos, dois lhe saciavam a fome, seis saciavam a dos clientes, se haviam quatro, lhe bastava um. Surrpiando-os legitimamente, para poder continuar o seu trabalho.
Mais tarde, passou por Santo André, até que enfim chegou à São Paulo. E foi lá que decidiu colocar em prática o sonho de se tornar artista. Sempre rejeitado, vê cada vez mais distante o sonho da realidade, com pouca escolaridade e sem padrinhos, sabia que o estrelato só seria alcançado com a divulgação do seu nome nos veículos de rádio, meio de comunicação mais influente da época.
Eis que surge Adoniran Barbosa, juntando o nome de seu amigo ao de Luiz Barbosa, um admirável da música, deixando para trás João Rubinato, seu nome de batismo. E foi no rádio que Adoniran pode ver três caminhos serem abertos, o de locutor, de ator e o de cantor.
Aprendiz das ruas, logo percebe que as possibilidades se abrem ao seu talento. Com o sonho de se tornar ator e marcar seu nome na história, vê naturalmente seu caminho ser desviado para a música, devido às rejeições anteriores. Sua inclinação corre pela composição, mas se sentindo usado pelos cantores, que compram a parceria e delas tiram sucesso e dinheiro, logo corre para o mesmo lado, a interpretação.
Sem se deixar escapar, começa a participar de programas de rádio, onde se destaca com vários papeis e interpretações populares. Embora impagáveis, esses programas não conseguem segurar por muito tempo ainda o compositor que teima em aparecer em Adoniran. Entretanto, é a partir daí que o grande sambista encontra a medida exata de seu talento, em que a soma das experiências vividas e da observação acurada dá ao país um dos seus maiores e mais sensíveis intérpretes.
O impacto que futuramente causará ao 'resto' do samba, com suas construções linguísticas indo de encontro ao que os 'outros' prezavam, não o diminuem em absolutamente nada, ao contrário do que pensavam, um gigante popular dos vagabundos começava a marcar seu nome na história. Com seu chapéu de aba lascada, caído pro lado, sempre de gravata borboleta, simples tal qual seu samba, feito para todos, mas sempre em homenagem aos que como ele, viviam à margem da alta sociedade.
Mais aceito por sí mesmo como compositor, tem como primeiro sucesso o ' Trem das Onze ', que muitos brasileiros conhecem, ouso afimar que todos, pelo menos o estribilho.
' ... Não posso ficar nem mais um minuto com você, sinto muito amor, mas não pode ser ... Moro em Jaçanã e se eu perder este trem que sai agora às onze horas, só amanhã de manhã, e além disso 'muié', tem outra coisa, minha mãe não dorme enquanto eu não chegar ... Sou filho único, tenho uma casa pra olhar, não posso ficar ... '
Entre a tentativa de carreira nas rádios paulistas e o primeiro sucesso, Adoniran trabalha duro, casa-se duas vezes e frequenta, como boêmio, a noite. Nas idas e vindas de sua carreira tem de vencer várias dificuldades. O trabalho nas rádios brasileiras é pouco reconhecido e financeiramente instável, muitos passaram anos nos seus corredores e tiveram um fim de vida melancólico e miserável. O veículo que encanta multidões, que faz de várias pessoas ídolos é também cruel como a vida, passado o sucesso que para muitos é apenas nominal, o ostracismo e a ausência de amparo legal levam cantores, compositores e atores a uma situação de impensável penúria.
Mesmo assim seu desejo cala mais fundo. O primeiro casamento não dura um ano, o segundo a vida toda: Matilde. De grande importância na vida do sambista, Matilde sabe com quem convive e não só prestigia sua carreira como o incentiva a ser quem é e como é, boêmio, incerto e em constante dificuldade. Trabalha também fora e ajuda o sambista nos momentos difíceis, que são constantes. Adoniran vive para o rádio, para a boêmia e para Matilde.
Numa de suas noitadas, de fogo, perde a chave de casa e não há outro jeito senão acordar Matilde, que se aborrece. O dia seguinte foi repleto de discussão. Mas Adoniran é compositor e dando por encerrado o episódio, compõe o samba ' Joga a chave '.
' ... Joga a chave meu bem, aqui fora tá ruim demais. Cheguei tarde e pertubei teu sono, amanhã eu não pertubo mais ... '
Nos últimos anos de vida, com um enfisema avançando, e a impossibilidade de sair de casa pela noite, o sambista dedica-se a recriar alguns dos espaços mágicos que percorreu na vida. Grava algumas músicas ainda, mas com dificuldade, já que a respiração e o cansaço não lhe permitem muita coisa. Reavalia sua trajetória artística. Compõe pouco.
Morre em 1982, aos 72 anos, Adoniran Barbosa.
O Brasil perde um dos seus maiores compositores e interpretes do samba brasileiro, do samba dos vagabundos.
Nasceu pobre e pobre morreu, todo o pouco dinheiro que ganhou, gastou ajudando ou nas noites, comemorando com amigos o seu rápido sucesso. Tinha fixado em mente algo que todos deveriam ter: ' Dessa vida eu não levo nada, ela é quem me leva. '
Além de não levar nada, deixou de presente obras que são tão atuais e apesar da linguagem própria, dita por alguns paulistana italianada, não deixam nada a desejar se comparadas com a música atual.
E nela falando ... Tenho que deixar meu pesar à cultura que a cada ano que passa me surpreende, e para pior. Nesses tempos em que Restart é rei, tenho até medo de perguntar quem é Deus.

Maldita alienação capitalista GLOBAL.

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