quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Eu, comigo mesmo.


Hoje almocei comigo mesmo e fiquei sem assunto.
Me convidei pra sentar na minha mesa. Tentei disfarçar o acanhamento.
Eu, acostumado a pensamentos intermináveis, me vi no silêncio da revolta.
Porque devo fazer o que os outros querem, se não aceito suas atitudes?
Concordei comigo mesmo.
Moro num país que prega a liberdade, mas onde o único avanço de uma minoria discriminada é sair de um gueto menor para outro um pouco maior.
Liberdade. Eu não sabia o que queria dizer essa palavra.
Mais alto que os tambores das escolas de samba, ou mesmo dos trios elétricos, eu ouvia o lamento das mães, a fúria dos assassinos, num país que prega o amor e, para meu espanto, o respeito.
Respeitar. Eu não sabia fazer isso.
Continuava sem assunto. A conversa não fluía.
Me revoltei e me deixei sozinho. Saí a passos largos. Nem me despedi.
Me ver indo embora me deixou triste.
Lá estava a pessoa que mais amava e a que menos respeitava.
Não me aceitava. Ser feliz comigo mesmo é uma tarefa difícil.
Chorei por mim mesmo. Chorei pelo meu país. Chorei pelo meu futuro.
Mas estou me procurando.
Se você me ver por aí, diga pra eu me ligar e combinar um outro almoço, quem sabe um jantar.
Não tenho assunto, mas tenho muita conversa para pôr em dia.
Já decidi.
Sei que quando morrer todos seremos iguais perante Deus.
Mas, enquanto for vivo, manterei as diferenças.
.
' Não presumas que sou o que antes fui, pois Deus sabe e você perceberá que dei as costas ao meu antigo eu ' .

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